De Volta à Raiz 𐤉𐤄𐤅𐤄

IDEOLOGIAS E A CULTURA DA NEGAÇÃO DA REALIDADE

Ao contrário da filosofia, que tem por objeto o ser, isto é, A REALIDADE, a ideologia leva o homem para um mundo de quimeras, substituindo-se à história e substituindo a realidade pela ideia enquanto mero produto da mente, sem aquela “adequação” com a coisa, segundo a definição clássica da verdade.

As ideologias revolucionárias de nossa época criaram novos mitos – os mitos da humanidade, do povo, da raça, da classe (ou do proletariado), da liberdade, da igualdade, do paraíso na terra –, mas mitos que não simbolizam entidades concretas como eram os das antigas religiões, mas abstrações.

Os símbolos de dogmatismo ideológico que dominam o pensamento contemporâneo nas sociedades ocidentais expressam não a realidade do conhecimento, mas uma revolta contra ele. Não tentam levar os homens à participação pela persuasão; ao contrário, são desenvolvidos na forma de uma linguagem obsessiva desenhada para prevenir o contato com a realidade pelos homens que se fecharam contra o fundamento.

Os tratamentos da consciência como o centro de ordem do homem são bloqueados intensamente pelas ideologias do positivismo, marxismo, historicismo, cientificismo, comportamentalismo, por meio da psicologização e da sociologização, pelas metodologias de significado mundial e pelas fenomenologias. Pois no simbolismo da revolta não se pode encontrar o logos da realidade do conhecimento, a não ser num modo secundário de uma forma de realidade [Realitätsförmlichkeit], que está presente mesmo na revolta e em seus símbolos, mas que pode ser reconhecido como tal apenas do ângulo da realidade do conhecimento.

A revolta niilista não pode ser suplantada em seu próprio nível de experiências e símbolos – por exemplo, por meio de um criticismo nivelado na ideologia, na cultura ou nos tempos, algo tentado por intelectuais que já não se sentem à vontade em sua situação.

Tentativas desse tipo podem levar apenas a uma agitação confusa no nada de uma realidade abandonada. O pensamento não noético (não intelectual) acerca da ordem da espécie produzida pela revolta não oferece nenhum ponto de partida para a noese.

“⁠Ninguém é obrigado a tomar parte na crise espiritual de uma sociedade; pelo contrário, cada um é obrigado a evitar essa loucura e viver sua vida em ordem.”

Eric Voegelin

“⁠A melhor forma de retomar o contato com a realidade é recorrer a pensadores do passado que ainda não a tinham perdido ou estavam empenhados em recuperá-la.”

Eric Voegelin 

Eric Voegelin foi um professor austríaco de filosofia política. Lecionou em muitas das principais Universidades europeias e conviveu com alguns dos maiores intelectuais de sua época, como Friedrich Hayek, Hans Kelsen e Leo Strauss.

No livro Reflexões Autobiográficas, Eric Voegelin diz:

“Tenho em meus arquivos os documentos segundo os quais sou comunista, fascista, nacional-socialista, velho-liberal, novo-liberal, católico, protestante, platônico, neo-agostiniano, tomista, e, é claro, hegeliano”.

A intenção do autor austríaco era encontrar a verdade e as principais explicações para questões sociais e filosóficas, independente das ideologiasSua extensa obra destrinchou qual seria a origem dos problemas modernos, gerando suas teorias em defesa da metafísica e suas condenações a ideologias, consideradas consequências do gnosticismo.

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