
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos atravessa um momento financeiro classificado como “gravíssimo”. Dados recentes apontam que a companhia se tornou responsável por mais da metade do prejuízo somado de todas as empresas estatais brasileiras. Apenas no ano passado, o déficit registrado foi de R$ 2,5 bilhões.
Segundo análise do economista Alan Ghani, da Jovem Pan, a situação atual contrasta com o desempenho recente da empresa. Entre 2017 e 2021, os Correios foram uma companhia lucrativa. No entanto, o cenário se inverteu a partir de 2022, iniciando uma sequência de resultados negativos que deve se estender por 2024 e 2025, com projeções de novos rombos bilionários.
As causas do prejuízo
Para compreender a crise, é necessário dividir os problemas em dois eixos principais: fatores circunstanciais e fatores estruturais.
1. Fatores circunstanciais (financeiros e políticos)
Estes elementos impactam diretamente o caixa da empresa no curto prazo:
- Dívidas judiciais: O pagamento de precatórios tem onerado significativamente o orçamento.
- Custo da folha de pagamento: A concessão de reajustes salariais acima da inflação elevou os custos fixos da estatal, desequilibrando as contas.
- Impacto da tributação (“Taxa das Blusinhas”): A implementação da taxa de 20% sobre compras internacionais de até 50 dólares alterou o comportamento do consumidor. Com o encarecimento das importações, houve uma redução no volume de encomendas transportadas pelos Correios. Esse cenário favoreceu concorrentes privados, como Amazon e Mercado Livre, que absorveram parte da demanda logística.
2. Fatores Estruturais (Modelo de Negócio)
Estes elementos referem-se à capacidade da empresa de se manter relevante ao longo do tempo:
- Mudança de comportamento: A obsolescência de serviços tradicionais, como o envio de cartas e telegramas — substituídos massivamente por e-mails e mensagens instantâneas —, reduziu uma das fontes de receita originais da empresa.
- Falta de adaptação: Diferentemente das empresas privadas de logística, que se modernizaram rapidamente para atender ao e-commerce, os Correios enfrentam dificuldades para competir em agilidade e eficiência no novo cenário digital.
A consequência direta do déficit é a transferência da conta para os cofres públicos. Sendo uma empresa estatal, o prejuízo bilionário acaba sendo coberto, em última instância, pela população brasileira. Diante da dificuldade da empresa em reverter o quadro e competir com o setor privado, analistas econômicos voltam a debater a necessidade de privatização como uma possível solução para estancar o dreno de recursos públicos.
O desempenho negativo transbordou para o Orçamento da União. O governo federal previa inicialmente um déficit de R$ 6 bilhões para as estatais federais em 2025. Contudo, devido ao agravamento da crise na empresa de postagens, essa previsão foi revista para R$ 9 bilhões. Para cumprir as regras fiscais vigentes, que exigem compensação quando o rombo das estatais excede a meta, o governo federal foi obrigado a realizar um contingenciamento (bloqueio) de R$ 3 bilhões em gastos de diversos ministérios.

Diante do cenário insustentável, os Correios anunciaram um plano de reestruturação para tentar estancar a sangria financeira e garantir a continuidade dos serviços. As principais medidas incluem:
- Demissão Voluntária (PDV): A meta é reduzir o quadro de funcionários em 10 mil pessoas (atualmente são 83 mil).
- Venda de Ativos: Planeja-se a venda de cerca de mil agências consideradas deficitárias e a alienação de imóveis, com expectativa de arrecadar R$ 1,5 bilhão.
- Novos Recursos: A empresa busca captar R$ 20 bilhões em empréstimos.
- Parcerias: O plano prevê a possibilidade de fusões, aquisições e parcerias estratégicas com a iniciativa privada.
A direção da estatal afirma que o objetivo das medidas é assegurar a sustentabilidade financeira e modernizar a operação logística em todo o país.
*Reportagem produzida com auxílio de IA
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